quarta-feira, 27 de fevereiro de 2008

Relação da Ética com outras Ciências

A ÉTICA E A SUA RELAÇÃO COM OUTRAS ÁREAS QUE ESTUDAM A CONDUTA HUMANA.

1. Ética e Filosofia
1.1. Ética filosófica:
a. Questionamento sobre o caráter cientifica da ética: “não elabora proposições objetivamente válidas, mas juízos de valor ou normas que não podem pretender essa validade” (VAZQUEZ, 2006, p.25)
b. A teoria ética (ética filosófica) pretende explicar a natureza, fundamentos e condições de moral sob o ponto de vista da ciência. O ato moral não é uma ciência, mas pode ser estudado sob a ótica da ciência.
c. É parte da Filosofia especulativa:
§ Preocupação em estabelecer princípios universais
§ Caráter absoluto e a prioristico de conceitos morais: bom, dever, valores;
d. As questões éticas sempre se constituíram a partir de uma parte da filosofia.
1.1.Ética cientifica
1.1.1. Pressupõe uma concepção filosófica imanente e racional.
1.1.2. Relação estreita entre Filosofia e Ciência
1.1.3. Como teoria do comportamento humano a ética partiu de determinas concepção filosófica do homem: um homem datado e local
1.1.4. A moral é, portanto inseparável da atividade prática do homem.

2. Ética e Psicologia
2.1. A ética busca elucidar o tipo peculiar de comportamento humano (ato moral);
2.2. Os agentes morais são indivíduos concretos, pertencentes a uma comunidade. Portanto, só há ato moral na relação com o outro (alter);
2.3. O ato moral responde à necessidade social de regular as relações dos indivíduos numa certa direção. Portanto, para tornar-se um ato oral as ações precisam ser vivenciadas intensa ou intimamente pelo sujeito num processo de subjetivação;
2.4. O auxilio da psicologia possibilita evidenciar a s leis que regem as motivações do comportamento humano, como também, a estrutura do seu caráter e da sua personalidade.
2.5. A explicação da psicologia do comportamento humano, as condições internas, subjetivas do ato moral explicam quando o ato humano extrapola a avaliação moral (fatores psíquicos)
2.6. Advertência para não cair no psicologismo ético: reduzir o ato moral ao psíquico.

3. Ética e Ciências Sociais
3.1. Estudo das leis que regem o desenvolvimento e a estrutura das sociedades humanas.
3.2. Estudo do comportamento humano como ser social: relações, formas de organização.
3.3. O sujeito do comportamento moral é o indivíduo concreto, mas inserido numa estrutura social, numa rede de relações sociais que influencia seu comportamento (o comportamento moral não tem um caráter puramente individual, mas sim social)
3.4. A ética não pode prescindir do conhecimento objetivo das estruturas sociais, de suas relações e instituições. No entanto, o conhecimento dos fatores sociais do comportamento moral não pode ser reduzido a sua mera expressão ou constatação;
3.5. Na analise do ato moral do individuo é preciso levar em conta os fatores sociais que influencia e condicionam e verificar se estes foram interiorizados (tenha consciência) no momento da tomada de decisão.
3.6. Os dados antropológicos, sociológicos e da história contribuem para que a ética se afaste de uma concepção absolutista ou supra-histórica da moral.

4. Ética e Economia Política
4.1. O ato moral deve levar em conta as relações econômicas que o homem contrai no processo de produção.
4.2. As relações econômicas influenciam na moral dominante numa determinada sociedade. O conhecimento desta moral baseia-se nos dados e conclusões de um modo de produção ou sistema econômico.
4.3. Os atos econômicos (produção de bens através do trabalho e a apropriação e distribuição dos mesmos) apresentam certa conotação moral.

5. Conclusão
5.1. A relação da ética/moral com a ciência pode ser tratada em dois planos:
a. Com relação a natureza da moral: é cabível ou não falar num caráter cientifico da moral;
b. Com relação ao uso social da ciência: neste caso fala-se do papel moral do homem de ciência ou da atividade do cientista.
5.2. A moral tem uma base histórica e social, portanto, deve levar em conta a constituição psíquica e social do homem. Neste caso abandona seu caráter ideológico.


Fonte: SANCHEZ VAZQUEZ. Adolfo. Ética. – 28ª ed. – Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2006, p.29-34.

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2008

A Ética como doutrina humana

Ética como doutrina da conduta humana: Em busca de uma conceituação de ética
1. Introdução
Como móvel da conduta humana a ética tem a função avaliar a vontade ou as regras que a direcionam.
2. Conduta humana
2.1. A conduta do ser é a resposta a um estímulo mental, ou seja, é uma ação que se segue ao comando do cérebro e que, manifestando-se variável, também pode ser observada e avaliada.
- Respostas aos estímulos nem sempre são as mesmas, variando-se sob diversas circunstâncias e condições.
- Difere do comportamento que também é a resposta a um estimulo cerebral, mas é constante e nisto difere da conduta que está sujeita à variabilidade dos efeitos.
2.2. O que a ética estuda é a ação que comandada pelo cérebro é observável e variável, representando a conduta humana.
3. Ética concebida como doutrina da conduta
3.2. A Ética da virtude
Ética da conduta ou ética móvel tem inspiração milenar nos pensadores clássicos:
- Protágoras (480 a.C) – propunha a ética como estudo da conduta e pregava o que fazer para ser virtuoso perante terceiros.
- Xenofonte (427 a.C) – indicou caminhos do homem para que fosse observados perante cada um dos aspectos de sua presença, perante a divindade, amigos, sociedade, pátria etc, cada um exigindo uma conduta peculiar.
Pensadores da época entenderam Ética como ação virtuosa, desde que resultasse do consenso de todos, ou seja, fosse aceita como tal.
3.3. A Ética científica dos grandes pensadores
A forma de entender a conduta humana, em favor da vida do homem, a partir de caminhos básicos que deve assumir, variou no tempo em relação a diversos pensadores.
3.3.1. Thomas Hobbes
§ Filósofo inglês, materialista, nascido em 1588.
§ Compreendeu que o básico na conduta é a “conservação de si mesmo” como bem maior: “o medo da opressão predispõe os homens para antecipar-se, procurando ajuda na associação, pois não há outra maneira de assegurar a vida e a liberdade”.
§ Associação como meio de conservação da existência tutelados por um Poder que torne possível: “os homens não tiram prazer algum da companhia uns dos outros (e sim, pelo contrário, enorme desprazer), quando não existe um poder capaz de manter a todos em respeito”. – Hobbes
§ Aponta três causas fundamentais da discórdia entre os participantes de um grupo: competição, desconfiança e a glória.
§ Atribui aos interesses pelo lucro, pela segurança e pela reputação os elementos que produzem móveis de uma ação antiética.
§ Defende a liberdade, justiça e o cumprimento das promessas ou acordos feitos entre os seres.
§ Propõe como deveres naturais a complacência, perdão aos arrependidos, a punição como preservação do bem futuro, fazendo a apologia da paz.
3.3.2. Baruch Espinosa (Spinoza)
§ Filosofo holandês, apologista de um racionalismo religioso, nascido em 1632.
§ Entende que desejar o bem para si mesmo é relevante, mas conhecer a natureza divina é algo que a tudo se sobrepõe.
§ Conduta ética fundamentada no amor
§ Consciência ética possui fortes sabores cósmicos visto que o homem na sua forma de observar agia de acordo com a energia que recebia e com responsabilidade de moldá-la ao necessário sem deformar sua gênese.
§ Conduta para ser natural e útil deve ser volvida no amor, não por ser obrigatória, mas por ser necessária.
§ Nega a liberdade falsa de “podemos tudo o que quisermos”: “não há na alma vontade alguma absoluta ou livre; porque a alma é determinada por outra e esta, por sua vez, ainda por outra, e assim até o infinito”.
ü Nossa subordinação faz de nossos atos aparentemente livres apenas a expressão de uma vontade que já foi modelada em outras causas, não possuindo o sentido de absoluta verdade.
ü Não defende a anulação do ser, pois negar a vontade própria seria contraditório ao admitirmos possuir a natureza do divino e a ele atribuir-se o exercício da vontade, não se podendo admiti-la em nos mesmos.
3.3.3. John Lucke
§ Filosofo inglês, nascido em 1632, liberal, defensor da experiência auxiliada pela sensação e reflexão.
§ Conservar-se em estado de prazer, como móvel para uma conduta ética.
Nega o conhecimento inato, sendo adquirido por iniciativa do ser e de terceiros.
A conduta, movida pelo cérebro e espírito é fruto de algo adquirido.
Concepções éticas com gênese no conhecimento e suas extensões.
3.3.4. Gottfrie Wilhelm Leibnniz
§ Filósofo e matemático alemão nascido em 1646 produziu uma doutrina idealista..
§ Normas de moral não são inatas, mas existem verdades inata sendo a mais importante “não fazer aos outros senão aquilo que gostaríamos que fosse feito a nós mesmos”.
Existência de uma verdade natural: somos levados aos atos de humanidade por instinto.
Consciência geradora da conduta é complexa
Exemplifica condutas humanas que inspiram espanto e asco, mas perfeitamente aceitas pelo grupo como a de caraíbas que castravam as crianças para que engordassem e depois as devoravam.
Questiona o conceito relativo do bem em face da sociedade humana e destaca o mal em si para que se compreenda a essência do bem em sentido amplo e substancial.
Nega o caráter verdadeiro da lei e admite que a sociedade pode consentir em transgredi-la por não se afinar ao conceito de justiça dos seres.
Cada ser age como se fosse um único à parte, por suas próprias idéias, mas em busca de uma composição dentre os outros seres existentes.
3.3.5. David Hume
§ Filosofo e historiador inglês, nasceu em 1711.
§ Destaca-se no campo da ética pelo seu posicionamento utilitarista, como um questionador das causas promotoras das virtudes, dos vícios, da verdade, beleza e lealdade e como um precursor dos conceitos sobre os móveis da conduta humana: “O caminho mais suave e pacifico da vida humana segue pelas avenidas da ciência e da instrução; e todo aquele que for capaz de remover algum obstáculo nesse caminho ou de abrir uma perspectiva nova deve ser considerado benfeitor da humanidade”.
§ O valor do conhecimento estava no campo da ciência, mesmo numa época em que sequer era ensinada nas universidades.
§ Reconhece a liberdade como a base da ética, a liberdade como condição relevante ambos indispensáveis para a paz e segurança da humanidade.
§ Conduta nem sempre está de acordo com a virtude, como padrão ideal a ser alcançado.
§ Apesar da dependência da vida associativa, os atos antiéticos podem atingir a todos especialmente quando vindos das esferas superiores do poder.
3.3.6. Immanuel Kant
§ Célebre filosofo alemão, nascido em 1724.
§ Ética imposta pela razão e admite que somente existe valor quando o homem age sob o impulso do dever.
§ Quando alguém cumpre um dever ético não pode ser considerado um virtuoso.
§ Prega a lei da vontade ética como prevalecente sobre todas: “Poder, riqueza, honra, mesmo a saúde, e todo o bem estar e contentamento com a sorte, sob o nome da felicidade dão ânimo que[..]. desanda em soberba, se não existir a boa vontade que corrija sua influência sobre a alma ... e lhe dê utilidade geral”.
3.4. Giovanni Vidari
§ “A Ética é a ciência que, tendo por objeto essencial o estudo dos sentimentos e juízos de aprovação e desaprovação absoluta realizados pelo homem acerca da conduta e da vontade, propõe-se a determinar”:
a) Qual o critério segundo a conduta... Ou qual é a norma, se opera a vontade em tal conduta...
b) Em que relações de valor estão com observância da norma, e a observância daquele fim as diversas formas de conduta, individual ou coletiva, tais como se apresentam na sociedade e na época em que pertencemos.
§ Aceita a ética como ciência cujo objeto é composto por juízos formados pela aprovação ou não de condutas humanas estudadas sob o prisma de seus efeitos.
Referência:
SÁ, Antonio Lopes de. Ética profissional. São Paulo: Atlas, 2001. Capítulo 2.

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2008

Faculdade de Tecnologia do Piauí
Curso de Direito
Disciplina de Ética Geral e Profissional

Assunto: Problema Morais e problemas éticos; atuação e definição de ética.
  1. Os problemas éticos e morais.
    1.1.O homem necessita pautar seu comportamento por normas que julga mais adequada para guiar o seu comportamento:
    § Os homens que agem moralmente
    § Os que julgam moralmente
    1.2. A ação e o julgamento recorrem a normas, cumprem determinados atos, formulam juízos e, às vezes, se servem de argumentos ou razões para justificá-los.
    1.3. O comportamento humano prático-moral estar sujeito às variações de uma época para outra, de um lugar para outro e remonta a própria origem do homem e da sociedade.
    1.3. Um problema ético se distingue do problema prático-moral, segundo Vazquez, pela sua generalidade. Ao contrário, o problema moral caracteriza-se pelo agir concreto em uma dada situação.
  2. A função da ética
    2.1. A definição do que é bom ou mal é uma reflexão teórica que cabe a ética e não a moral
    2.2. “Explicar, esclarecer ou investigar uma determinada realidade, elaborando conceitos correspondentes”.
    2.3. Capacidade de explicar e não de prescrever ou recomendar comportamentos com vista a uma dada situação concreta
    2.4. Explicação daquilo que foi ou é, e não pode ser transformada em uma descrição dos comportamentos humanos.
  3. Definição
    3.1. “É uma teoria, investigação ou explicação de um tipo de experiência humana ou forma de comportamento dos homens, o da moral considerada na sua totalidade, diversidade e variedade” (VAZQUEZ, 2006, p.21).
    3.2. “É a teoria ou ciência do comportamento moral dos homens em sociedade” (VAZQUEZ, 2006, p.23).
    3.3. “Área da Filosofia que investiga os problemas vindos do agir humano, concernente aos valores morais” (VIEIRA, 2007, p.15)
    3.4. ‘“É a ciência ou a filosofia que fará a eleição das melhores ações tendo como horizonte o interesse coletivo, universal” (ALMEIDA, 2006, p.16)
    3.5. Ciência da conduta (ABBAGGNANO, 2000, p.380)
    § Caráter científico: tem objeto próprio: fato moral;
    § Aspira à racionalidade e a objetividade
    § Objeto de estudo: os atos humanos conscientes e voluntários que afetam outros indivíduos, determinados grupos sociais ou a sociedade em seu conjunto.
    § A ética não é uma ciência normativa. O filosofo não pode ser uma espécie de legislador do comportamento moral dos indivíduos.
    § Os problemas éticos caracterizam-se pelas suas generalidades enquanto os problemas morais situam-se nas situações concretas.
  4. Etimologia
    4.1. Moral: vem do latim mos ou mores: costume ou costumes. – sentido de conjunto de regras adquiridas por hábito. Neste caso a moral se refere ao comportamento adquirido ou modo de ser conquistado pelo homem em dado tempo e lugar.
    4.2. Ética: vem do grego èthos que significa analogamente modo de ser ou caráter enquanto forma de vida também adquirida ou conquistada pelo homem.
  5. Ética, Moral e Direito.
    5.1. Moral:
    § “Conjunto de normas e condutas reconhecidas como adequadas ao comportamento humano por uma dada comunidade humana” (COTRIM apud VIEIRA, 2007, p. 16)
    § Objeto da ética: Conduta dirigida ou disciplinada por normas (ABBAGGNANO, 2000, p.362)
    5.2. Direito:
    § Conjunto de normas imperativas para todos.
    § “A técnica que visa a possibilitar a coexistência dos homens [...] conjunto de regras que tem por objeto o comportamento inter-subjetivo”. (ABBAGGNANO, 2000, p.278)
  6. Atividade:
    Refletir e argumentar sobre a relação Ética, Moral e Direito.

    Fonte de consulta:
    ALMEIDA, Guilherme Assis. Ética e Direito: uma perspectiva integrada. – 2 ed. – São Paulo: Atlas, 2006.
    ABBAGNANO, Nicola. Dicionário de Filosofia. 4 ed. -São Paulo: artins Fontes, 2000.
    SANCHEZ VAZQUEZ, Adolfo. Ética. - 2ª ed. - Rio de Janeiro: Civilização brasileira, 2006.
    VIEIRA, Tereza Rodrigues. Ética no Direito. – Petrópolis, rj: Vozes, 2007(Coleção Ética nas profissões).

terça-feira, 12 de fevereiro de 2008

Atuação e problemas da ética


Segundo Vazquez os problemas éticos e morais surgem no cotidiano das pessoas, mas não são a mesma coisa. Eles surgem como uma promessa feita a um amigo, que se cumprida causará certo prejuízos; Alguém que se aproxima a noite sob suspeita e você não sabe se dever atirar para se proteger ou correr o risco de ser agredido; se a pessoa deve sempre dizer a verdade ou há ocasiões em que uma mentira não fará mal etc. São sempre problemas que hora atingem a vários indivíduos ou podem atingir vários grupos sociais.
De qualquer forma, o autor afirma que em qualquer das hipóteses, o homem necessita pautar seu comportamento por normas que julga mais adequada para guiar o seu comportamento. Trata-se de um agir. Esse seu comportamento o diferencia de outros seres vivos em razão da decisão refletida. Temos então, de um lado, os homens que agem moralmente e, do outro lado, os que o julgam moralmente. Ninguém pode se eximir dessas duas situações. Assim, tanto aquele que age como o que julga, recorrem a normas, cumprem determinados atos, formulam juízos e, às vezes, se servem de argumentos ou razões para justificar suas ações.
Assim sendo, temos então um efetivo comportamento humano prático-moral que, apesar de estar sujeito às variações de uma época para outra, de um lugar para outro, remonta a própria origem do homem e da sociedade. Fica demonstrado, então que, segundo Vazquez, o homem não somente age moralmente, como também reflete sobre seu comportamento prático. Quando isso ocorre há uma passagem do plano prático-moral para a dimensão teórica moral. Um problema ético se distingue do problema prático-moral, segundo Vazquez, pela sua generalidade. Ao contrário, o problema moral caracteriza-se pelo agir concreto em uma dada situação. A ética pode até ajudar no sentido de refletir sobre o que é um comportamento pautado por normas, mas não poderá auxiliar no agir específico dando-lhe um receituário. Entretanto, a definição do que é bom ou mal é uma reflexão teórica que cabe a ética e não a moral. Assim, a argumentação de Vazquez conduz a afirmação de que a investigação teórica acaba por influenciar a prática, uma vez que ao definir o que é o bom, se está traçando um caminho geral, cujo referencial poderá orientar o homem na sua conduta nas situações particulares. Mas, deve-se deixar claro que o problema moral não se confunde com o problema ético, eles não se identificam. Além da distinção entre o problema moral e o problema ético, Vazquez evidencia outros problemas fundamentais tais como: o da essência do ato moral; o problema da responsabilidade, ou seja, somente é possível falar de comportamento moral quando o sujeito se comporta e é responsável pelos seus atos, o que pressupõe a questão da liberdade de escolha. Desta forma, responsabilidade, liberdade e vontade são aspectos indissociáveis da reflexão ética. Por fim, o problema da obrigatoriedade moral e da realização moral. Na finalização de tudo pode-se dizer que os problemas morais situados no plano prático e os problemas éticos na dimensão teórica, no fundo, não estão separados por barreiras intransponíveis. Eles acabam por se retroalimentarem um ao outro. Como foi dito acima, os problemas éticos caracterizam-se pelas suas generalidades enquanto os problemas morais situam-se nas situações concretas, porém, mantendo uma relação biunívoca. Desta forma, não há como pensar a ética como uma ciência normativa. Torná-la uma disciplina normativa cuja função seria a de definir o melhor comportamento do ponto de vista moral. O filosofo não pode ser uma espécie de legislador do comportamento moral dos indivíduos. Segundo Vazquez (2006), a função da ética é a mesma de toda teoria: “explicar, esclarecer ou investigar uma determinada realidade, elaborando conceitos correspondentes”. A moral que se situa num plano concreto e localizado, varia de acordo com a época e o lugar, tanto seus princípios como as suas normas, portanto, mais fiel as condições existenciais. O contrário disso, isto é, quando não ocorre essa variação, há então uma ideologização da moral que transforma determinadas necessidades sociais em princípios e normas universais. Não se pode denominar isso de moral muito menos de ética. Por fim, fica entendido que a ética na perspectiva de Vazquez (2006) “é uma teoria, investigação ou explicação de um tipo de experiência humana ou forma de comportamento dos homens, o da moral considerada na sua totalidade, diversidade e variedade”. E que o valor da ética está no seu caráter eminentemente teórico, isto é, na sua capacidade de explicar e não de prescrever ou recomendar comportamentos com vista a uma dada situação concreta. Apesar de várias tentativas históricas de transformar a ética em uma ciência normativista pode-se assegurar que a sua “vocação ontológica” é a explicação daquilo que foi ou é, e não pode ser transformada em uma descrição dos comportamentos humanos. Ela não formula juízos sobra à prática moral absoluta e universal das sociedades, mas esclarecer o fato de que os homens recorreram às práticas morais diferentes e até opostas em vários momentos e lugares históricos.
Portanto, fica claro que a ética parte do fato da existência histórica da moral. Ela estuda os fatos, mesmo que estes sejam fatos de valor, isto é, comportamentos humanos que os homens julgaram valiosos e, além disso, imperativos e dos quais não se pode fugir.
Fonte: SANCHEZ VAZQUEZ, Adolfo. Ética. - 2ª ed. - Rio de Janeiro: Civilização brasileira, 2006.

O neófito na acadêmia

O OFÍCIO ACADÊMICO
O acadêmico(a) quando inicia seus estudos superiores coloca-se diante de um problema fundamental: como lidar com o conhecimento científico? Trata-se, portanto, de um fenômeno que se dá em uma circunstaância especifica e nova. Novas atitudes e novas exigências lhes serão exigidas na relação com o conhecimento.
Nas sociedades pós-industriais "o conhecimento será uma moeda de grande valor e viabilizará transações e negociações essenciais para as futura gerações"(TEXEIRA, 2007, p. 17). Aqueles que não aprederem a maninupular , desvendar , expressar, construir e transmitir conhecimentos, fatalmente, poderão ser excluidos dela.
Mas não interessa qualquer adquirir qualquer tipo de conhecimento. Mas aquele contextualizado e que tem ressonância social. Portanto, um conhecimento dinâmico que exige uma postura dinâmica na relação.
Constata-se que o locus próprio do conhecimento é o cotidiano. Ocorre de forma tão corriqueira que não se pergunta pela sua origem, pela sua forma de apropriação. Poucos ficam admirados diante desse fenômeno. Não há problematização.
No cotidiano quado se faz indagação sobre o que seja o conhecimento em geral se apresenta uma resposta na qual se dá ênfase ao aspecto topológico e não lógico do conhecimento. Luckesi(2002) analisa que há uma pouca compreensão desse fenômeno(não á problematização). Somente quando a situação vivenciada revela-se problematica é que se transforma em intyeligivel e explicativa, como afirma Luckesi: " a realidade não é transparente por si, mas pode tornar-se por meio da investigação que constroí o conhecimento"(2002, p. 24).
Como a realidade não é tranparente em si mesmo torna-se necessário então se perguntar de que forma se apropria do conhecimento. Essa apropriação "é o modo pelo qual é possivel ao sujeito humano tomar posse de um entendimento da realidade"(LUCKESI, 2002,p.28). Duas formas são possiveis de construir esse entendimento da realidade: diretamente pela aquisição de uma compreensão, de um esforço de entendê-la a partir delementos e relações próprias; ou indiretamente quando se faz por meio de uma apropriação intelectual de algo já produzido por outro. Esta talvez seja a prática mais usual ma acadêmia. O que importa é o que e como o sujeito humano faz com o conhecimento.
Exatamente por isso, o conhecimento no contexto atual tornou-se muito relevante, tratado como um capital intelectual. Mais ainda, como uma ferramenta indispensável ao exercício da cidadania. E, por outro lado, na economia capitalista, um atributo indispensável para que quer ingressar no mercado de trabalho. De qual quer maneira, o conhecimento é um tema que extrpola o simples limite da sala de aula.
O trabalho do acadêmico é o estudo. Trata-se de um "ofício" que aprenderá na relação que construirá com o conhecimento e no processo de maturação. Necessita, portanto, desenvolver habilidades(aprender a fazer) e competências(aprender a aprender) indispensaveis ao processo de construção do seu ofício acadêmico. Segundo Bastos e Keler(apud TEIXEIRA, 2007, p. 24) três tipos de imaturidade podem se manifestar no neófito acadêmico: imaturidade cultural, imaturidade psicológica e imaturidade lógica.
assim, portanto, o oficio acadêmico necessita de três atos fundamentais para superar a imaturidade acadêmica: o ato de estudar(aprender) expresso no desejo de obter conhecimento e interagir de forma mais significatica com a realidade; o Ato de ler que se manifesta na leitura do mundo e da escrita, isto é, capacidade de dar significado ao que cerca o seu entorno, como diria Paulo Freire que a leitura do mundo precede a leitura da palavra e o ato de escrever: capacidade de se comuicar textualmente.