terça-feira, 12 de fevereiro de 2008

Atuação e problemas da ética


Segundo Vazquez os problemas éticos e morais surgem no cotidiano das pessoas, mas não são a mesma coisa. Eles surgem como uma promessa feita a um amigo, que se cumprida causará certo prejuízos; Alguém que se aproxima a noite sob suspeita e você não sabe se dever atirar para se proteger ou correr o risco de ser agredido; se a pessoa deve sempre dizer a verdade ou há ocasiões em que uma mentira não fará mal etc. São sempre problemas que hora atingem a vários indivíduos ou podem atingir vários grupos sociais.
De qualquer forma, o autor afirma que em qualquer das hipóteses, o homem necessita pautar seu comportamento por normas que julga mais adequada para guiar o seu comportamento. Trata-se de um agir. Esse seu comportamento o diferencia de outros seres vivos em razão da decisão refletida. Temos então, de um lado, os homens que agem moralmente e, do outro lado, os que o julgam moralmente. Ninguém pode se eximir dessas duas situações. Assim, tanto aquele que age como o que julga, recorrem a normas, cumprem determinados atos, formulam juízos e, às vezes, se servem de argumentos ou razões para justificar suas ações.
Assim sendo, temos então um efetivo comportamento humano prático-moral que, apesar de estar sujeito às variações de uma época para outra, de um lugar para outro, remonta a própria origem do homem e da sociedade. Fica demonstrado, então que, segundo Vazquez, o homem não somente age moralmente, como também reflete sobre seu comportamento prático. Quando isso ocorre há uma passagem do plano prático-moral para a dimensão teórica moral. Um problema ético se distingue do problema prático-moral, segundo Vazquez, pela sua generalidade. Ao contrário, o problema moral caracteriza-se pelo agir concreto em uma dada situação. A ética pode até ajudar no sentido de refletir sobre o que é um comportamento pautado por normas, mas não poderá auxiliar no agir específico dando-lhe um receituário. Entretanto, a definição do que é bom ou mal é uma reflexão teórica que cabe a ética e não a moral. Assim, a argumentação de Vazquez conduz a afirmação de que a investigação teórica acaba por influenciar a prática, uma vez que ao definir o que é o bom, se está traçando um caminho geral, cujo referencial poderá orientar o homem na sua conduta nas situações particulares. Mas, deve-se deixar claro que o problema moral não se confunde com o problema ético, eles não se identificam. Além da distinção entre o problema moral e o problema ético, Vazquez evidencia outros problemas fundamentais tais como: o da essência do ato moral; o problema da responsabilidade, ou seja, somente é possível falar de comportamento moral quando o sujeito se comporta e é responsável pelos seus atos, o que pressupõe a questão da liberdade de escolha. Desta forma, responsabilidade, liberdade e vontade são aspectos indissociáveis da reflexão ética. Por fim, o problema da obrigatoriedade moral e da realização moral. Na finalização de tudo pode-se dizer que os problemas morais situados no plano prático e os problemas éticos na dimensão teórica, no fundo, não estão separados por barreiras intransponíveis. Eles acabam por se retroalimentarem um ao outro. Como foi dito acima, os problemas éticos caracterizam-se pelas suas generalidades enquanto os problemas morais situam-se nas situações concretas, porém, mantendo uma relação biunívoca. Desta forma, não há como pensar a ética como uma ciência normativa. Torná-la uma disciplina normativa cuja função seria a de definir o melhor comportamento do ponto de vista moral. O filosofo não pode ser uma espécie de legislador do comportamento moral dos indivíduos. Segundo Vazquez (2006), a função da ética é a mesma de toda teoria: “explicar, esclarecer ou investigar uma determinada realidade, elaborando conceitos correspondentes”. A moral que se situa num plano concreto e localizado, varia de acordo com a época e o lugar, tanto seus princípios como as suas normas, portanto, mais fiel as condições existenciais. O contrário disso, isto é, quando não ocorre essa variação, há então uma ideologização da moral que transforma determinadas necessidades sociais em princípios e normas universais. Não se pode denominar isso de moral muito menos de ética. Por fim, fica entendido que a ética na perspectiva de Vazquez (2006) “é uma teoria, investigação ou explicação de um tipo de experiência humana ou forma de comportamento dos homens, o da moral considerada na sua totalidade, diversidade e variedade”. E que o valor da ética está no seu caráter eminentemente teórico, isto é, na sua capacidade de explicar e não de prescrever ou recomendar comportamentos com vista a uma dada situação concreta. Apesar de várias tentativas históricas de transformar a ética em uma ciência normativista pode-se assegurar que a sua “vocação ontológica” é a explicação daquilo que foi ou é, e não pode ser transformada em uma descrição dos comportamentos humanos. Ela não formula juízos sobra à prática moral absoluta e universal das sociedades, mas esclarecer o fato de que os homens recorreram às práticas morais diferentes e até opostas em vários momentos e lugares históricos.
Portanto, fica claro que a ética parte do fato da existência histórica da moral. Ela estuda os fatos, mesmo que estes sejam fatos de valor, isto é, comportamentos humanos que os homens julgaram valiosos e, além disso, imperativos e dos quais não se pode fugir.
Fonte: SANCHEZ VAZQUEZ, Adolfo. Ética. - 2ª ed. - Rio de Janeiro: Civilização brasileira, 2006.

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