segunda-feira, 18 de fevereiro de 2008

A Ética como doutrina humana

Ética como doutrina da conduta humana: Em busca de uma conceituação de ética
1. Introdução
Como móvel da conduta humana a ética tem a função avaliar a vontade ou as regras que a direcionam.
2. Conduta humana
2.1. A conduta do ser é a resposta a um estímulo mental, ou seja, é uma ação que se segue ao comando do cérebro e que, manifestando-se variável, também pode ser observada e avaliada.
- Respostas aos estímulos nem sempre são as mesmas, variando-se sob diversas circunstâncias e condições.
- Difere do comportamento que também é a resposta a um estimulo cerebral, mas é constante e nisto difere da conduta que está sujeita à variabilidade dos efeitos.
2.2. O que a ética estuda é a ação que comandada pelo cérebro é observável e variável, representando a conduta humana.
3. Ética concebida como doutrina da conduta
3.2. A Ética da virtude
Ética da conduta ou ética móvel tem inspiração milenar nos pensadores clássicos:
- Protágoras (480 a.C) – propunha a ética como estudo da conduta e pregava o que fazer para ser virtuoso perante terceiros.
- Xenofonte (427 a.C) – indicou caminhos do homem para que fosse observados perante cada um dos aspectos de sua presença, perante a divindade, amigos, sociedade, pátria etc, cada um exigindo uma conduta peculiar.
Pensadores da época entenderam Ética como ação virtuosa, desde que resultasse do consenso de todos, ou seja, fosse aceita como tal.
3.3. A Ética científica dos grandes pensadores
A forma de entender a conduta humana, em favor da vida do homem, a partir de caminhos básicos que deve assumir, variou no tempo em relação a diversos pensadores.
3.3.1. Thomas Hobbes
§ Filósofo inglês, materialista, nascido em 1588.
§ Compreendeu que o básico na conduta é a “conservação de si mesmo” como bem maior: “o medo da opressão predispõe os homens para antecipar-se, procurando ajuda na associação, pois não há outra maneira de assegurar a vida e a liberdade”.
§ Associação como meio de conservação da existência tutelados por um Poder que torne possível: “os homens não tiram prazer algum da companhia uns dos outros (e sim, pelo contrário, enorme desprazer), quando não existe um poder capaz de manter a todos em respeito”. – Hobbes
§ Aponta três causas fundamentais da discórdia entre os participantes de um grupo: competição, desconfiança e a glória.
§ Atribui aos interesses pelo lucro, pela segurança e pela reputação os elementos que produzem móveis de uma ação antiética.
§ Defende a liberdade, justiça e o cumprimento das promessas ou acordos feitos entre os seres.
§ Propõe como deveres naturais a complacência, perdão aos arrependidos, a punição como preservação do bem futuro, fazendo a apologia da paz.
3.3.2. Baruch Espinosa (Spinoza)
§ Filosofo holandês, apologista de um racionalismo religioso, nascido em 1632.
§ Entende que desejar o bem para si mesmo é relevante, mas conhecer a natureza divina é algo que a tudo se sobrepõe.
§ Conduta ética fundamentada no amor
§ Consciência ética possui fortes sabores cósmicos visto que o homem na sua forma de observar agia de acordo com a energia que recebia e com responsabilidade de moldá-la ao necessário sem deformar sua gênese.
§ Conduta para ser natural e útil deve ser volvida no amor, não por ser obrigatória, mas por ser necessária.
§ Nega a liberdade falsa de “podemos tudo o que quisermos”: “não há na alma vontade alguma absoluta ou livre; porque a alma é determinada por outra e esta, por sua vez, ainda por outra, e assim até o infinito”.
ü Nossa subordinação faz de nossos atos aparentemente livres apenas a expressão de uma vontade que já foi modelada em outras causas, não possuindo o sentido de absoluta verdade.
ü Não defende a anulação do ser, pois negar a vontade própria seria contraditório ao admitirmos possuir a natureza do divino e a ele atribuir-se o exercício da vontade, não se podendo admiti-la em nos mesmos.
3.3.3. John Lucke
§ Filosofo inglês, nascido em 1632, liberal, defensor da experiência auxiliada pela sensação e reflexão.
§ Conservar-se em estado de prazer, como móvel para uma conduta ética.
Nega o conhecimento inato, sendo adquirido por iniciativa do ser e de terceiros.
A conduta, movida pelo cérebro e espírito é fruto de algo adquirido.
Concepções éticas com gênese no conhecimento e suas extensões.
3.3.4. Gottfrie Wilhelm Leibnniz
§ Filósofo e matemático alemão nascido em 1646 produziu uma doutrina idealista..
§ Normas de moral não são inatas, mas existem verdades inata sendo a mais importante “não fazer aos outros senão aquilo que gostaríamos que fosse feito a nós mesmos”.
Existência de uma verdade natural: somos levados aos atos de humanidade por instinto.
Consciência geradora da conduta é complexa
Exemplifica condutas humanas que inspiram espanto e asco, mas perfeitamente aceitas pelo grupo como a de caraíbas que castravam as crianças para que engordassem e depois as devoravam.
Questiona o conceito relativo do bem em face da sociedade humana e destaca o mal em si para que se compreenda a essência do bem em sentido amplo e substancial.
Nega o caráter verdadeiro da lei e admite que a sociedade pode consentir em transgredi-la por não se afinar ao conceito de justiça dos seres.
Cada ser age como se fosse um único à parte, por suas próprias idéias, mas em busca de uma composição dentre os outros seres existentes.
3.3.5. David Hume
§ Filosofo e historiador inglês, nasceu em 1711.
§ Destaca-se no campo da ética pelo seu posicionamento utilitarista, como um questionador das causas promotoras das virtudes, dos vícios, da verdade, beleza e lealdade e como um precursor dos conceitos sobre os móveis da conduta humana: “O caminho mais suave e pacifico da vida humana segue pelas avenidas da ciência e da instrução; e todo aquele que for capaz de remover algum obstáculo nesse caminho ou de abrir uma perspectiva nova deve ser considerado benfeitor da humanidade”.
§ O valor do conhecimento estava no campo da ciência, mesmo numa época em que sequer era ensinada nas universidades.
§ Reconhece a liberdade como a base da ética, a liberdade como condição relevante ambos indispensáveis para a paz e segurança da humanidade.
§ Conduta nem sempre está de acordo com a virtude, como padrão ideal a ser alcançado.
§ Apesar da dependência da vida associativa, os atos antiéticos podem atingir a todos especialmente quando vindos das esferas superiores do poder.
3.3.6. Immanuel Kant
§ Célebre filosofo alemão, nascido em 1724.
§ Ética imposta pela razão e admite que somente existe valor quando o homem age sob o impulso do dever.
§ Quando alguém cumpre um dever ético não pode ser considerado um virtuoso.
§ Prega a lei da vontade ética como prevalecente sobre todas: “Poder, riqueza, honra, mesmo a saúde, e todo o bem estar e contentamento com a sorte, sob o nome da felicidade dão ânimo que[..]. desanda em soberba, se não existir a boa vontade que corrija sua influência sobre a alma ... e lhe dê utilidade geral”.
3.4. Giovanni Vidari
§ “A Ética é a ciência que, tendo por objeto essencial o estudo dos sentimentos e juízos de aprovação e desaprovação absoluta realizados pelo homem acerca da conduta e da vontade, propõe-se a determinar”:
a) Qual o critério segundo a conduta... Ou qual é a norma, se opera a vontade em tal conduta...
b) Em que relações de valor estão com observância da norma, e a observância daquele fim as diversas formas de conduta, individual ou coletiva, tais como se apresentam na sociedade e na época em que pertencemos.
§ Aceita a ética como ciência cujo objeto é composto por juízos formados pela aprovação ou não de condutas humanas estudadas sob o prisma de seus efeitos.
Referência:
SÁ, Antonio Lopes de. Ética profissional. São Paulo: Atlas, 2001. Capítulo 2.

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